Buscando Ariel

Nosso terceiro ensaio aconteceu hoje. Escrevo esse relato com sono, pois foi um dia cansativo e muito bom de trabalho, e não quero que as memórias recentes se percam… Além do que, esse é o meu primeiro post pra você, Bela. A ideia de escrever para você foi do seu pai e achei “superbe”!

Estou vivendo momentos especiais durante os ensaios, embora tenham sido só três até agora, parece que já faz um mês que estou na sala de trabalho. Tenho uma oportunidade muito especial nesse processo de experimentar fisicamente e textualmente todos os personagens, e aos poucos vou entendendo racionalmente e corporalmente em que estados eles estão, que fisicalidade sugerem, tudo isso sob a orientação de Maurice e do seu pai.

Além disso, é um prazer trabalhar com um mestre como Maurice, rígido e muito generoso que vai desvendando o texto junto, buscando respostas, apontando ideias, dando aulas sobre Shakespeare e ainda contando sempre uma boa história sobre a vida, o teatro… E tudo isso com você ali, às vezes no cantinho desenhando, às vezes subindo na cadeira, quase caindo e tirando a atenção do seu pai do trabalho, em outros momentos imitando a mamãe, cantando música do Frozen… Muito bom filha, você também está aprendendo junto com a gente, só tem dois anos e meio de vida, mas já viveu muitas coisas junto com a galera que você tanto gosta (nosso grupo de teatro) nas viagens, através das peças que assistiu, e agora nessa residência em um outro país, em que você tem estado carente por não estar encontrando muitas crianças da sua idade pra brincar, mas ainda assim continua sendo a criança feliz e alegre que nos encanta.

O estudo em cima do personagem Ariel, na sua primeira aparição na peça, foi muito intenso e difícil pra mim, mas como a condução é muito tranquila, me dá o tempo de ir assimilando as informações e aos poucos encontrar alguns momentos que apontam um caminho que eu posso seguir e investigar. O interessante do trabalho é que sempre estou buscando a personagem através de ações muito específicas. Maurice diz: Shakespeare é físico, ele te diz o que personagem está fazendo, em que estado ele está. E assim vamos buscando juntos no texto e no corpo essas informações. Porém, como apresentar um personagem que é um espírito da natureza? Ele é fogo, ar, terra e água… Tudo junto.

Minha primeira inclinação como atriz, quase sempre é seguir por caminhos já conhecidos, sentimentos globais, mas sei que essa é a primeira camada pela qual tenho que passar, e depois jogar fora, porque acho que só serve como uma passagem, pra que eu observe e tenha consciência de que o que estou mostrando já é conhecido e superficial, pois não é a verdade da personagem. É preciso explorar, entender de fato o que Shakespeare quer dizer com cada fala, e assim estamos fazendo, aos poucos.

Hoje corri, dancei, pulei, fiz ruídos, faíscas, tudo buscando encontrar como Ariel havia causado a Tempestade em seu estado de fúria. Fiz essa fala do Ariel repetidas vezes seguindo orientações, muitas vezes só corporalmente, mudando e acrescentando coisas, de forma muito ampla, até aos poucos ir tornando tudo mais simples, menor… E você, Bela, ali, olhando e falando baixinho, porque como você diz: “tô trabalhando teatro, mamãe”.

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3 comentários sobre “Buscando Ariel

  1. Meio congelado. Começa uma chuva aqui. Será a sombra de Ariel que Paula rascunhara em 2015? (Terei que voltar outras vezes as esses escritos pois há peças, mapas que não tenho noção e dão maior peso a cada fato.) Consigo sentir a emoção dos pais. Meus olhos ardem pelo horário mas sinto um lacrimejar desses sentimentos singelos.

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