10: Labutando

Filhota, hoje o Maurice veio mais cedo pra Cartoucherie, pra resolver coisas no Soleil, e nós ficamos de chegar mais tarde, depois do almoço. Acabamos atrasando uns quinze minutos, coisa que queremos evitar – e o Maurice não gosta! – mas enfim, são as decorrências de horários de ônibus/metrô e dos atrasos domésticos com uma criança que nem sempre quer colocar calça, quer colocar blusa, quer colocar casaco, e assim por diante… Mas tudo certo, não se repetirá… (Espero!)

Quando chegamos, o Maurice já tinha preparado uma parte do cenário, com um sofá feito de cadeiras e almofadas, e uma mesinha também improvisada com as coisas que temos à mão no L’Épée. Conversamos um pouco sobre isso, e sobre o que mais precisávamos pra compor o ambiente. Feito isso, percebemos que não tínhamos falado nada sobre figurino, já que a Paulinha estava com roupa de ensaio! Ela até tinha pensado em algumas coisas, mas não deixou em casa. Então os dois foram ao Soleil separar algumas peças do acervo deles pra Dona Jovelina, a mãe do Ernestinho, a entrevistada.

Ao chegarem, finalizamos a organização do espaço, o posicionamento da câmera (a nossa, de registro da cena, não a “cênica”, que por enquanto não existe), e em seguida eu e a Paulinha fomos dar uma geral nas perguntas, ajustar, etc. Antes de começarmos a improvisação, o Maurice fez algumas perguntas pra Paula, tipo o nome da personagem, a idade, onde acontecia aquela entrevista, em qual data, em qual horário, etc.

Tudo pronto, fomos pra cena. Eu fiquei como o entrevistador, sem aparecer no enquadramento, e ela entrava com uma bandeja d’água, oferecia pra equipe de televisão e sentava no sofá. Isso tudo acontecia com música. A cena funcionou muito bem, a Paulinha conseguiu trabalhar muito bem com o tempo da personagem, com os silêncios, os bloqueios em falar sobre o filho, foi uma boa improvisação.

Conversamos em seguida, trocando algumas impressões, e o nosso impulso inicial foi em refazer a cena, mas antes que começássemos o Maurice propôs não fazermos e, ao invés disso, conversarmos melhor sobre a cena, com calma, e deixar essas questões amadurecerem para nós e, principalmente, para a Paulinha, e amanhã refazermos com todos os elementos cênicos direitinho.

Nessa conversa, muitas ideias surgiram, com associações à Tempestade e aos demais materiais que estamos pesquisando. O Maurice, no entanto, fez questão de dar uma refreada nas nossas ansiedades, deixando esse momento agora para explorar essa ideia da entrevista de da Jovelina, pra depois experimentarmos as outras coisas possíveis.

Definimos também que, pra continuidade desse trabalho, vamos mudar de filho pra filha, e o nome dela será Miranda. Também conversamos que esse trabalho, da forma como estamos experimentando, pede uma relação não-frontal com o público, coisa que vamos começar a explorar. Outra possibilidade que vamos experimentar é fazer com que não haja a figura do entrevistador, ou as perguntas em off, mas apenas ela ouve, como o programa Ensaio, da TV Cultura.

Por fim, o Maurice falou sobre a necessidade de se usar mais o espaço e as ações possíveis, para dar uma apropriação e naturalidade maior ao trabalho de personagem, e a Paula fez um relato que se emocionou em diversos momentos, e que acha que os elementos cênicos todos ajudaram muito pra isso.

Filha, me desculpe pelo relato de hoje, que foi meio maçante, mas nesse momento do trabalho não há muitas alternativas, e também não é todo dia que a escrita flui! Espero que amanhã eu possa estar mais inspirado!

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5 comentários sobre “10: Labutando

  1. li só o primeiro e amei. Esta experiência detalhada do trabalho cênico me fez sentir um cheiro de palco, uma vontade de continuar lendo e me envolvendo no seu trabalho. uma vontade de sair do escritório e voltar para o palco logo. mas este é o movimento fim de férias. que você continue inspirado. Bj

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    1. Chris, querida!!!! Que maravilha receber a tua visita e o teu comentário, ainda mais sabendo que o que estamos aprontando por aqui te inspira aí também! O desejo de estar mais próximo de vocês e aprontarmos alguma coisa juntos segue vivo em mim! E continua a ler e a comentar, que é gostoso demais pra gente, viu? Beijos pra você, pro Ângelo e pra Violeta!

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  2. Yamamoto, que projeto e experiência fantásticos, meu irmãozinho… desejo a vocês três muitas alegrias e riqueza de vivências. Êxito na empreitada!
    Saudades.

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  3. Tecendo impressões de como vão abordando a dramaturgia e buscando essa pulsação no corpo. (Exercitando aqui a sempre deixar uma paisagem, os diários trazem esse fio de Ariadne emocional para qualquer experiência. Ainda permeio pelo relato anterior. Lembro do filme “A Vida é Bela” e os contrastes entre o cinza e o terror com a leveza da criança e quando na realidade esses dois aspectos cortam constantemente um e outro. A criança é cortada mas ainda baila? ).

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