Pois bem, minha pirralha, chegamos em “Firenza”, na “Natália”, “o lugar de tomar sorvete”, como você gosta de dizer.
Estamos em um apartamento no coração do centro histórico, super bacana, tanto o ap, quanto a localização. Eu já tinha vindo pra cá há 21 anos (tô velho!!!!!), a tua mãe tá conhecendo essa cidade fantástica junto com você, agora.
Por uma feliz circunstância, a Francesca estava viajando e só chegou ontem à noite, ou seja, tivemos o dia de ontem de folga pra nos acomodarmos melhor e, logicamente, passearmos e curtirmos um pouco a bela Firenze.
Depois de comermos boas pastas e aproveitarmos alguns dos melhores gelatos da cidade, hoje encontramos com a Francesca para começar o trabalho. A forma que optamos pra fazer isso já se mostrou muito acertada: hoje, amanhã e domingo, ela está dando uma oficina num espaço cultural da cidade, e a tua mãe está participando. Na segunda, começamos o trabalho específico pro projeto.
Então, depois do almoço, fomos encontrar a France, na porta do prédio dela, pra seguir de carro pro espaço, chamado Il Vivaio del Malcantone. Vivaio, porque o lugar foi antes um viveiro de plantas, e del Malcantone, porque é o nome da rua em que fica, e significa algo como “esquina barra pesada”, digamos assim… Mas o espaço não tem nada disso, ainda há muita coisa plantada no local, o que faz dele muito bucólico e agradável, e uma sala muito aconchegante para o trabalho.
Uma coisa muito bacana, ao meu ver, pra tua mãe, é que a turma é muito heterogênea, em todos os sentidos possíveis: idades variadas; alguns que acompanham a Francesca há muito tempo, outros que nem a conheciam; várias áreas de atuação, desde atores, cantores e bailarinos, até uma produtora! (lembrei do Rafa, que de vez em quando se aventura em oficinas com gente que os Clowns trazem pra Natal, e isso com certeza faz dele um produtor cada vez melhor!); artistas iniciantes, outros super experientes – até mesmo a Giusi Merli, grande amiga da Francesca, que fez a Santa no premiado filme A Grande Beleza, que ganhou o Oscar de melhore filme estrangeiro no ano passado.
O encontro não poderia ser melhor. Além de dar uma “desenferrujada” na tua mãe em relação ao trabalho da Francesca, já que faz muitos anos que trabalhamos com ela, está sendo uma forma de aproximação a outros artistas florentinos, como aconteceu na nossa convivência com o Soleil e o Épée, pra não restringir a residência aos nossos mestres anfitriões. E, como a Paulinha comentou quando se apresentou à turma, a Francesca é de fato uma bruxa! Incrível como o trabalho é abstrato e muito concreto ao mesmo tempo, mexe com a voz, que é impalpável, mas o trabalho é muito palpável, visível mesmo! Os resultados são percebidos em cada um, ela consegue fazer essa arqueologia pela voz de todos e acessar o ponto necessário!
Ela passou, na prática e na conversa, por diversos princípios que norteiam o trabalho dela, e que têm muito a nos oferecer. Listo alguns pra ilustrar, mas não vou aprofundar, porque acho que não faz muito sentido fazer isso, à não ser pros que já conhecem sua forma de trabalho:
- A voz além da música, ou seja, ultrapassar o senso comum de só pensar a música como tempo, e vê-la pelo viés do espaço também.
- A relação da escuta enquanto eu falo/canto.
- Respeitar o tempo da palavra, uma vez que o tempo do pensamento é muito menor. É comum atropelarmos o tempo da palavra, porque o pensamento vai exigindo velocidade.
Uma coisa super bacana de perceber é como esse trabalho da France é revelador. Comentei ao final com ela como me senti até numa condição meio injusta, porque todos se expuseram tanto, foi possível – principalmente pra mim, que já trabalho com isso e tenho experiência em fazer esse tipo de leitura – conhecer muito bem como é cada um, em termos de forma e disciplina de trabalho: um mais resistente, outro super “eu já trabalho há muito tempo com a Francesca e conheço muito bem essa técnica”, outro super aplicado e cdf, e assim por diante.
Bom, pra variar, quem roubou a cena? Você, Bela! Aliás, você anda se divertindo muito aqui na Itália porque todos tem chamam “pelo nome”. Por onde andamos na rua, as pessoas comentam: “ciao, bella”, como se tivessem te chamando pelo nome! Bom, mas você ficou super bem na oficina, a maior parte do tempo comigo, e às vezes indo encher um pouco a tua mãe, e encantou a todos e foi elogiada na avaliação final pela Francesca.
Outra coisa legal foi ter entendido, digamos, uns 80% de tudo que foi falado na oficina! Com meu conhecimento de português, e o tanto que domino do francês e do espanhol, não é difícil compreender o italiano. O problema, no entanto é falar! Fico meio angustiado, porque detesto ter que ficar falando inglês em países cuja língua nativa não é essa, mas aqui tá bem difícil, falta uma base mínima. No entanto, vou exercitando a escuta pra, quem sabe antes de ir embora, conseguir arranhar um pouquinho. A parcela Minicucci começa a borbulhar em mim!
É isso. Começando, e muito bem, uma nova etapa. Curtindo esse novo momento, bem mais relaxado, no clima da descontração e bagunça italianas, muito mais parecidas com a brasileira. E feliz demais por estarmos com a Francesca, essa profissional incrível que, sem dúvida, vai trazer muito pro trabalho!
Andiamo!
Eu ia justamente perguntar sobre essa questão da fala!
Não conheço o trabalho da Francesca, mas fico imaginando como fazer uma oficina voltada à expressão vocal em outra língua! Aliás, por mais que o conhecimento de outra língua seja enorme, atuar em outra língua é uma das coisas que acredito ser das mais difíceis do mundo!
A oficina foi conduzida em italiano?
Como foi para a Paulinha?
Só tinha ela de estrangeira?
Ah, coisa nada a ver, mas que só me lembrei de perguntar agora: porque “os livros” de Miranda???
hehehe
É isso!
Ciao Bela e bellos.
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Diogo, a oficina foi maravilhosa! Foi conduzida em italiano, mas sempre que eu não entendia a explicação, a Francesca fazia a tradução pro português (perfeito) dela. Como eu já tinha feito uma oficina da France antes em Natal, foi mais fácil também entender a condução dela em italiano, apesar de não falar a língua. Além disso, a turma era super diversificada, mas só nós de estrangeiros, no entanto, me senti super dentro, porque todos eram muito amáveis, divertidos e simpáticos. Sobre os Livros de Miranda, vou deixar pra Fê responder, ele já queria fazer um post sobre isso.. Ciao querido!
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Legal, Paulinha!
E que chique, e que desafio!
Aproveite muito aí!
Ciao, Bella!
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Além de tudo isso que a Paulinha comentou, já que a Francesca fala um português perfeito e gramaticalmente muito mais sofisticado do que o nosso, tenho descoberto como o italiano é uma língua compreensível pra nós! Então, é possível entender, ainda mais em se tratando de um jargão que já conhecemos. Quanto aos Livros de Miranda, é uma ótima e fundamental questão, que até o fim da residência vou escrever um post específico sobre, ok?
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Que massa!!!! Que massa!!! Não sei bem porque, mas eu estava sempre imaginando que esta etapa na Itália poderia ser uma das mais proveitosas para Paulinha. Como se, de certa forma, vocês fossem trabalhar a mecânica (a cena) na França, mas na Itália, especialmente, e com Francesca, Paulinha teria oportunidade de afiar as ferramentas. Mas é claro que esta ideia é totalmente equivocada, pois sem dúvida o trabalho com o Maurice também foi incrivelmente enriquecedora para ela, enquanto atriz. Muito bom!!! Minha amiga, só posso invejar muito (no bom sentido, é claro) esta oportunidade maravilhosa que você esta tendo aí. Beijão e aproveite tudo!!
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