Depois de fecharmos a oficina muito bem, com a sua mãe conseguindo aproveitar muito do trabalho e crescer muito, finalmente começamos o trabalho em si, Beloca! Hoje tivemos uma reunião na casa da Francesca para traçar como será essa semana de trabalho aqui.
Chegando lá, ela ligou via Skype pro querido bruxo-mestre Gabriel Villela, e conversamos muito e matamos (e aumentamos) a saudade. Ele ainda sugeriu que a France trabalhe o grave da voz da Paulinha, que ele entende que ela tem um grande potencial nessa região. Com o “apadrinhamento” do chefe, como costumo chamá-lo, fomos ao trabalho!
Começamos falando sobre a ideia do projeto, como a coisa aconteceu, e como está sendo o processo em Paris. A partir disso, falamos sobre uma série de caminhos que elencamos como possibilidades de colaboração dela pro trabalho:
- Em primeiro lugar, e talvez o principal, o texto shakespeariano, em especial no registro mais grave, como o Gabriel sugeriu, e o próprio Maurice já tinha indicado.
- A relação dos sons que exploramos no Ariel (fogo, estalos, vento, enfim, os elementos da natureza) e Caliban (grunhidos, resmungos, talvez trabalhar o texto do Caliban sem fala, como acho que o Diogo sugeriu num comentário aqui no blog).
- Explorar possibilidades de diferentes vozes para dois personagens dialogarem, como o Ferdinand e a Miranda.
- Trabalhar a Paulinha cantando Los Peces, da Lhasa de Sela, que foi a música que trabalhamos pro Ariel cantar travestido de ninfa.
- Conversarmos sobre a influência da música do Phillip Glass e do Michael Nyman na cena, já que estão sendo bastante usados nas improvisações. Esse universo musical é muito familiar pra Francesca, então achamos que ela pode contribuir.
- Pesquisar e levantar canções napolitanas e milanesas (italianas, em geral, mas principalmente dessas duas cidades, já que são as duas citadas na obra shakespeariana.
- O mesmo com músicas infantis italianas, na ideia do Próspero, pra tentar manter a identidade italiana da filha, cantar músicas de criança do seu país para a Miranda.
Como não poderia deixar de ser, a incrível Francesca tinha milhões de referências e caminhos pra cada uma das coisas que nós falamos. Ela foi comentando, à medida que falávamos, sobre muitas coisas que podíamos ver e trabalhar, nos inundando de materiais que foram dando água na boca de conhecer e investigar. Pra citar alguns, sem entrar em muitos detalhes, Strehler, Wim Mertens, Olivier Messiaens, Cathy Berberian, uma versão incrível de Jaberwocky (do Lewis Carrol) que ela mesmo gravou, e duas últimas que acho bacana falar com mais detalhes.
Uma delas diz respeito à estrutura espacial e de movimentação que estamos trabalhando, a partir da inspiração do Les Ephémères. Ao descrevermos como funcionava, ela explicitou o óbvio, que estava na nossa cara e não tínhamos visto: a movimentação respeita a ideia da cosmologia de Galileu! A cadeira, mesa, plataformas e praticáveis fazem movimentos de translação e rotação, claro!!! E essa referência do Galileu, Da Vinci, Copérnico, etc, tem tudo a ver com o Próspero, esse amante da ciência, estudioso das “artes ocultas”, como ele mesmo fala! E, pra completar, o Galileu Galilei é de Pisa, que fica aqui pertinho, e morreu na prisão aqui em Firenze! E, pra completar, aqui em Firenze tem o Museo Galileo, que precisamos conhecer! Ou seja, tudo faz sentido!!!!!
A outra é uma música que fiquei apaixonado, que ela nos mostrou quando falei sobre o Promenons nous dans le bois, e essa coisa das músicas infantis, que podem ter uma conotação da violência e da repressão. É uma música do Lucio Dalla que se chama Attenti al Lupo, que é divertidíssima, não só a música, como a dancinha que ele faz com duas dançarinas nas apresentações! Acho que esses constrastes das músicas leves e divertidas com o peso da situação, ainda mais com essa coisa do medo do Lobo, do Lobo Mau, pode ser um caminho muito bom, tô com isso na cabeça! Vejam que delícia:
Apesar de eu ter linkado esse vídeo acima, na nossa reunião a Francesca inicialmente só falou sobre ele e as demais referências, e só depois fomos ao computador pra assistir todo o material. Ela foi nos mostrando um a um o que ela tinha comentado, com coisas que passavam por tudo que tínhamos relatado a ela, e depois nós mostramos os vídeos de seis cenas de improvisação que selecionamos pra mostrar como anda o trabalho pra ela.
Que encontro feliz! Que privilégio ter o Maurice e a Francesca conosco e, principalmente, poder vivenciar um pouco do cotidiano dos dois, nas suas cidades, nas suas casas, com seus amigos. Ah, mas que dia feliz… Oh, como estou tão feliz!!!!