26: Trabalhar, comer, cantar…

Bela, hoje foi um dia muito especial. O nosso encontro com a Francesca estava marcado só pro fim da tarde, mas acabamos ficando em casa, descansando, trabalhando, e saímos bem tarde, o suficiente pra almoçar, tomar um gelato, andar um pouquinho pela cidade e já ir pro trabalho.

A tua mãe subiu antes pro ap da Francesca, pra ir fazendo aula enquanto eu dava uma última voltinha com você no carrinho, pra ver se você dormia e descansava um pouco. Ledo engano. Até dormiu, mas foi só entrar no prédio da France e te pegar no carrinho, que você abriu os olhos com aquela esperteza instantânea que lhe é peculiar e perguntou “chegou?”.

Enfim, plano de sono frustrado, subimos e a tua mãe fazia aula. Hoje, chegando a oitavas ainda mais baixas, muito bonito o trabalho que elas estão fazendo! A cereja do bolo foi você fazendo aula junto com ela, cantando “i, i, i, i, i” e outros vocalizes! Linda!

Fomos então pro texto. A tua mãe tinha selecionado um trecho da cena dois do primeiro ato, que Ariel pede a liberdade ao Próspero, que lhe dá umas boas cacetadas (verbais) em troca, colocando-o no seu lugar. A base do trabalho é a mesma do que foi feito anteontem: colocar o pensamento à frente da intenção, reduzindo o cantado da prosódia e dando ênfase à análise da sintaxe da palavra. Como se tratava de um trecho pedido pela Francesca que tivesse um diálogo mais ágil, o foco do trabalho foi um pouco diferente do primeiro trabalho com texto, já que o teor filosófico (digamos assim) do texto é menos profundo, dando espaço pra ação. É um trabalho difícil de explicar por aqui, mas que foi visível como a Paulinha avançou muito, começando a entender e se apropriar da ideia. Nesses dias que restam de trabalho por aqui, a Francesca quer trabalhar um pouco de texto todos os dias, não necessariamente só com o Shakespeare, mas outros formatos (prosa, etc.) pra fixação desse pensamento.

Fechamos o trabalho para comermos uma bela pasta com funghi feita pela Francesca, na companhia do seu parceiro Gian Mario Conti, um incrível artista plástico (recomendo uma visita à sua página no Facebook para conhecer sua obra) e igualmente virtuoso harpista. Mal tínhamos falado com ele até aqui – à exceção de rápidas trocas de ciao –, mas hoje pudemos conviver um pouco mais e nos esforçarmos (mutuamente) pra vencer as barreiras da língua, em boa parte auxiliado pela France. É um cara muito legal, e rolou uma paixão entre ele e você, Belinha! Você brincou bastante com ele, quis comer no sofá ao lado dele, e depois ainda ganhou uma luxuosa sessão conjunta de desenho no teu caderninho com ele! Segue uma das criações desse duo.

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Em seguida, ele tocou harpa para nós, algumas músicas acompanhadas pela voz sempre incrível e penetrante da Francesca, outras acompanhadas por uma gaita de boca que ele tocava num suporte “tipo Bob Dylan” enquanto dedilhava a harpa. Emocionante! Que privilégio!

Depois ele usou a harpa como instrumento de percussão, e a Francesca foi cantando, improvisando em cima da batida, e ele sugeriu que você e a tua mãe dançassem. Você ficou envergonhada, mas a Paulinha foi, e a partir daí ficamos falando sobre a facilidade que a brasileira tem de dançar, e ele me pediu pra ensinar a batida do samba pra ele. Putz, até me arrisco a acompanhar de vez em quando batucando na mesa, mas ensinar isso!!!??? Vai pediu logo prum japonês!!???? KKKKKKKKKKKK!!!!!!

Tentei sem muito sucesso, depois ouvimos um pouco de Paulinho da Viola, Velha Guarda da Portela e Teresa Cristina, e ainda mostrei um pouco de outros ritmos brasileiros, como o maracatu e o baião. Depois até lembrei que poderia ter mostrado pra ele o “Samba Italiano”, do Adoniran!!!! Como não pensei a tempo, posto aqui para animar o post e pra France mostrar pra ele quando puder:

E assim acabou a quinta! O tempo dessa jornada fiorentina começa a ficar curto, e confesso que o coração tá apertando. Tenho uma antiga história com Paris, e a despedida foi menos traumática porque ainda voltaremos para lá antes de ir pra casa, mas aqui essa história tá acabando, e esse período aqui tem sido muito especial, a vontade era de passar bem mais tempo! E tenho a impressão que você anda curtindo muito também, Bela. Cantando, passeando, trabalhando e mandando teus ciaos, buon giornos e a domanis por aí. Teremos uns dias pra dar uma turistada rápida pela velha bota antes de voltar a Paris, mas xa areia da ampulheta dessa história com Firenze parece cair cada vez mais rápido e a hora do arrivederci vai chegando…

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3 comentários sobre “26: Trabalhar, comer, cantar…

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