28: Jornada tripla

Dia cheio de atividades, Bela! Começamos acompanhando a Francesca e o Gian Mario ao Teatro della Pergola, um dos mais antigos da Itália, que farão uma temporada lá, e hoje foram ensaiar. O teatro é lindo, apesar de só termos dado uma passada pela sala de espetáculos, já que o ensaio – e a temporada – acontecerão numa das salas de ensaio do teatro. Ao passarmos pela área interna, desde a entrada de serviço, até os corredores e escadas que vão dar na sala, me bateu uma sensação que já vivi algumas outras vezes pra confirmar: é incrível como o teatro é a minha nação, o meu lugar. Não importa que teatro seja, em qualquer país, que fale qualquer língua, quando eu entro num teatro eu reconheço os cheiros, a luminosidade, a ambiência sonora, como se fosse a minha casa; não há estranhamento! É como se eu tivesse saído da Itália e entrado no meu território – como as embaixadas, que são território dos seus países, e não do país onde elas estão – e ao sair pela porta voltado a Firenze. Muito maluca essa sensação…

Bom, o ensaio foi lindo, como era de se esperar. Foi bem técnico, mas ainda assim é impossível não nos tocarmos pela voz da Francesca e a harpa do Gian Mario. Ao final, você perguntou baixinho pra tua mãe: “agora pode bater palma?”. No entanto, a vergonha – um sentimento que nos últimos tempos você tem conhecido e praticado bastante – não te deixou consumar o ato.

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Depois do almoço, foi a vez de visitar o Museo Galileo, pra buscar inspiração pro nosso movimento cosmológico (ou seria cosmográfico?) da cena. Do Galileo, em si, não tem lá muita coisa, achei o museu meio truqueiro, mas ainda assim, é muito bacana ver as coisas não só dele, mas da evolução da ciência como um todo. É praticamente inacreditável como o ser humano conseguiu vislumbrar e criar tudo que nos cerca, e ainda mais como isso foi sendo desenvolvido.

Saindo do museu almoço e, claro, um gelato – hoje, da Gelateria dei Neri – pra depois seguirmos pra casa da Francesca trabalhar. O foco hoje foi música. Primeiro, Sorte la Luna, que a Paulinha tá mandando muito bem! Além de estar com a letra bem segura, de memória e de pronúncia – à exceção de um il y a que ela sempre esquece o “y” –, está conseguindo o mais importante, ao meu ver, que é incorporar os princípios técnicos trabalhados com a Francesca no canto. Ainda experimentamos subir o tom uma vez, que funcionou muito bem, e uma segunda vez, que acabou ficando alto demais e a Francesca descartou. Depois, foi a vez de pegar Attenti al Lupo. Como a Francesca não encontrou a partitura pro piano ainda, estamos trabalhando com o arquivo de karaokê da música! Apesar de uma letra mais simples, por ser popular, pra quem não domina o italiano fica mais difícil. A Paula tá até indo muito bem, já decorou com pronúncia razoavelmente quase toda a música, mas tem um salto a ser dado que não é tão simples. Depois de cantar algumas vezes, a France resolveu trabalhar a pronúncia das palavras, frase a frase.

Por fim, ainda iniciou o trabalho de uma nova música, uma canção tradicional romana chamada Mi affaccio alla finestra – na realidade um trecho dela. Foi um primeiro contato, e amanhã devemos nos debruçar nela. Assim, vamos voltar pra Paris com três canções da terra do Próspero e da Miranda! Ótimo!

O trabalho tá chegando perto do fim. Amanhã trabalhamos, depois folgamos dois dias, enquanto a France vai pra Nápoles, e na quarta teremos o último dia com ela antes de partirmos de Firenze. Apesar de ser uma pena já estar chegando ao fim, não há dúvidas que o trabalho está sendo muito importante não só pro espetáculo, mas pra Paula como atriz, em geral. Acho que tem complementado muito bem o crescimento que o Maurice proporcionou pra ela em Paris.

Depois do ensaio, ainda tive tempo pra assistir um espetáculo da companhia alemã Familie Flöz, chamado Hotel Paradiso, que foi uma indicação do Diego Marques, que fez uma oficina comigo no Rio no ano passado. Vocês duas resolveram ir pra casa descansar. Eu estava com expectativa sobre a peça, já que vi imagens na internet muito legais sobre o trabalho deles, que mistura teatro de animação e máscara. O trabalho é bonitinho, mas não chegou a me empolgar. Ainda assim foi bacana ter assistido, e ainda mais conhecido o Teatro Verdi, que também é muito tradicional na cidade.

Simbora dormir, porque amanhã deve ser um dia intenso de trabalho!

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4 comentários sobre “28: Jornada tripla

    1. Nossa, Di, que elogio! Fico feliz que eu tenha conseguido te passar em palavras um pouco do que sinto. Percebi isso há uns dois anos, quando fomos fazer uma visita ao teatro do El Galpón, do Uruguai, um dos grupos mais antigos da América Latina. Eu já estava encantado com Montevideo, mas quando entrei naquele teatro, percebi que estava na minha casa. Somos todos feitos da mesma matéria… Qualquer resquício de sentimento de estrangeiro se esvaiu assim que pus os pés ali, foi incrível! E ontem aconteceu a mesma coisa…

      Curtido por 1 pessoa

      1. Não é exatamente a mesma coisa, porque não foi no estrangeiro, mas acho que tive mais ou menos a mesma sensação ao visitar o Arthur Azevedo, em São Luís do Maranhão 🙂
        Que sejam os teatros esses pontos de encontro, onde as diversas nações e línguas se encontram para uma ágora onde a fantasia e a realidade coabitam!

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